6.16.2009

Das medidas II

Feito não para caber

Sentada assim, meio de lado,
Naquela varanda.
Você e as mãos apoiadas,
Os pés suspensos,
A cabeça inclinada.
Com seu vestido de botões
Demoradamente contados,
Com a pulseira de cinco voltas,
Com o chapéu cor de palha.
Você, que sem notar se espalha,
E avança sobre a grama, a telha, a sala
Até tornar inexplicável.
Você, com o jeito pousado,
Os laços tomados, o calor dilatado,
Infinita dentro dos meus olhos
E das minhas manhãs.




"Às vezes fica a impressão de que no fundo dizemos sempre a mesma coisa com outras palavras."

5.25.2009

Das medidas

Alguma coisa em ti
Só sabe existir assim,
Ao montes
Uma simples risada tua
Toma a boca
O quarto, a rua
Toma a minha tarde inteira.



Ilustração:Juan Marin

5.10.2009



Dans Paris não é um filme. É uma poesia...

Avant la Haine - Alex Beaupain

Lui:
Sais-tu ma belle que les amours
Les plus brillantes ternissent
Le sale soleil du jour le jour
Les soumet au suplice

J'ai une idée inattaquable
Pour éviter l'insupportable

Avant la haine, avant les coups
De sifflet ou de fouet
Avant la peine et le dégout
Brisons-là s'il te plait

Elle:
Non, je t'embrasse et ça passe
Tu vois bien
On s'débarrasse pas de moi comme ça

Tu croyais pouvoir t'en sortir,
En me quittant sur l'air
Du grand amour qui doit mourir
Mais vois-tu je préfère
Les tempêtes de l'inéluctable
A ta petite idée minable

Avant la haine, avant les coups
De sifflet ou de fouet
Avant la peine et le dégout
Brisons-là dis-tu

Lui:
Mais tu m'embrasses et ça passe
Je vois bien
On s'débarrasse pas de toi comme ça

Lui:
Je pourrais t'éviter le pire

Elle:
Mais le meilleur est à venir.

Ensemble:
Avant la haine, avant les coups
De sifflet ou de fouet
Avant la peine et le dégout...


Antes do ódio

Ele:
Quero que saibas, minha linda, que os amores
Os mais brilhantes sujam-se
O sol sujo do dia-a-dia
Submete-os ao suplício

Tive uma idéia inadequada
Para evitar o insuportável

Antes do ódio, antes dos golpes
Dos assobios e dos chicotes
Antes da pena e do desgosto
Vamos terminar, por favor

Ela:
Não, eu beijo-te e isso passa
Tu bem sabes
Que não te livras de mim assim

Tu acreditas que te vais safar desta
Abandonando-me ao sabor
Do grande amor que deve morrer
Mas tu sabes que prefiro
As tempestades do inevitável
À sua pequena idéia destrutiva

Antes do ódio, antes dos golpes
Dos assobios e dos chicotes
Antes da pena e do desgosto
Tu dizes para terminarmos

Ele:
Mas eu beijo-te e isso passa
Eu bem sei
Que não me livro de ti assim

Ele:
Eu poderia evitar o pior

Ela:
Mas o melhor está para vir.

Juntos:
Antes do ódio, antes dos golpes
Dos assobios e dos chicotes
Antes da pena e do desgosto...

5.02.2009

CEP


Querida M.,

Já não me lembro ao certo quando, mas era Chico que me dizia:

"Porque quando eu cheguei por aqui, eu nada entendi..."

Do modo como só ele sabe, só ele existia e era inteiro na casa. Sim, era de Sampa que ele falava, mas para mim as notícias eram todas suas.
Sabe, M, eu, no início, também não te compreendia, e me perdia com facilidade nessas suas ruas imensas, cheias de tanto, de tudo... Ipiranga, São João.
Mas então você aparecia, com seus braços de avenidas, prontos para me atravessar. E seus braços, M., construíam a minha cidade.

Não fui eu que compus Sampa, M. Mas toma, é sua.
É você comigo dentro.

4.13.2009

7

Por mim.
Por você.

4.06.2009

Leve


Eu poderia chamar-te adorável e não estaria mentindo. Mas mesmo assim faltaria nisso alguma verdade misteriosa, subtraída na simplicidade da fala.

Escolho não dizer-te, então, e uso o vento como palavra. Zuuum... Enquanto o carro corre, em meio ao dia que corre... e dentro de mim você também corre. Zuumm. ..a mil km por hora.

E te chamo assim de nomes que só existem em grandes velocidades. Inspiro e expiro - e faço acontecer palavras-ar na estrada.

Não sei bem se me escuta, mas quando abre as janelas só para bagunçar nossos cabelos, eu sei: também sabe.
... e Zuuum. Vamos.

3.11.2009

Abro a janela e a cidade pede passagem, avançando sobre o parapeito. E palpita toda ela na minha vista. Linda.

A cidade, mudando de endereço em tempos de nova Estação. Toda ela outra e ainda minha. Toda ela laranja lima.

Me visto inteira de edifícios só para combinar. E logo acima, os telhados rimam folhas e feixes de luz. Meu tipo.

Antecipo o movimento e existo fora de mim por um breve momento - tempo todo meu e dela.