7.26.2007

Dentro e fora


Para ela, qualquer idéia de peso e medida sempre causava grande impressão, de modo que tanto uma formiga quanto uma montanha ganhava a importância das coisas que não podem ser ignoradas.
Talvez por isso tenha crescido buscando quantificar o que estivesse ao seu redor, como quem busca uma explicação palpável e enumerada para os acontecimentos. Isso é isso, aquilo é aquilo, e todos podem dormir sem maiores mistérios embaixo da cama. Uma casa, um brinco, o peso de uma janela que abre e fecha.

Tudo em uma balança de significados.

Mas, inevitável, significados não podem ser medidos. Afinal, típicas impressões tão próprias quanto inalcançáveis que são, acabam ganhando o peso impossível em sua leveza ou em seu peso. Basta caberem na palma da mão para já ultrapassarem todos os limite. E assim, veja só, cria-se o infinito com um simples gesto enquanto buscamos os numerais.

8 comentários:

Fabrício Fortes disse...

e teus "pequenos" textos acabam causando o impacto que algumas obras não alcançam com suas mil páginas.. certas coisas respondem a medidas não-quantitativas.. ficou lindo esse também

4rthur disse...

Mensurar o imensurável, eis a utopia dos metódicos.

Concordo inteiramente com o que o Fabrício disse. Textos pequenos e deliciosos, daqueles que a gente lê e relê várias vezes, desabrochando novos entendimentos, novas interpretações.

Daniela Lima: disse...

Amiga, me identifiquei com cada palavra desse texto. Ai, ai, LINDO!

Daniela Lima: disse...

Que orgulho da minha amiga.

Cláudia I, Vetter disse...

E fica minha razão em todas as tuas palavras...

É uma fraqueza tão virtuosa me encontrar em vocábulos alheios tão lindos...

;)

assino Malú disse...

tão você. por que será?


amo-te.
vem comer trufa, vem...

Diogo Lyra disse...

Amei Clarineta! Veja que coincidência com um texto bem antigo que escrevi...

MEMÓRIAS DO CALÇAS-CURTAS
"Quando era criança – por volta dos oito anos, por aí – eu tinha uma reflexão sobre a morte. As crianças não pensam muito nisso, e eu tampouco. Na verdade, essa idéia, a princípio mórbida, continha para mim algo extremamente interessante. Explico. Na minha pequena metafísica infantil, pensava que no momento da morte, naquele segundo infinito de transição, minha última fagulha de consciência seria brindada pela verdade. Acreditava que a passagem da vida para a morte guardava em si a revelação de todos os mistérios, a sabedoria absoluta e, por fim, o triunfo do homem sobre a dor metafísica. Sua segunda, última e derradeira graça. E ponto final. Logicamente a estruturação de todo esse pensamento foi resignificada pelo meu eu 20 anos mais velho, mas as premissas não foram complexificadas e sim traduzidas. Aliás, contemplava o momento da morte não apenas a verdade sobre o mistério da vida tal qual prega a metafísica, mas também abarcava o saber subjetivo, a verdade sobre coisas imensuráveis, coisas que somente uma criança poderia crer algum dia saber. Qual foi a melhor música já feita em todos os tempos? E o melhor livro? Qual teria sido a conseqüência se eu não tivesse optado por ir naquele dia fatídico à casa de mina avó? Qual o melhor doce do mundo? E por aí vai. Essa era a única crença cega que alimentava na infância, a revelação total e absoluta".

Ah Clarimazini, somos todos imensuráveis...

Anônimo disse...

conheço gente tão parecida...
a imagem tá muito linda também.