6.05.2007

Três tempos

I
Observava aquele homem e mesmo depois de alguns minutos, não sabia dizer se gostava realmente do modo como ele falava. As frases, de tão bem encaixadas umas às outras, seguiam de modo uniforme e ao mesmo tempo, ininterrupto. Logo imaginou um trem com diversos vagões, ou melhor, uma pedra que insiste em rolar.

Sim, preferiu a idéia da pedra e passou a observar aquele homem como quem mira algo desgovernado. Por pouco não freou seus ombros enquanto ele teimava nessa velocidade, mas ele estava parado. Quase. Não. Chegou a experimentar uma sensação de enjôo.

Resolveu então correr junto a cada palavra e logo sua primeira sensação cedeu lugar a um tipo de embriaguez que poderia ser classificada como exata. E não ter certeza ou calma era melhor ainda.
Como uma noite de lua e bebida, sem hora para voltar pra casa.

6 comentários:

4rthur disse...

Tivesse ficado com a idéia do trem, e eu a imaginaria subindo em um dos vagões. Ao invés disso, preferiu subir na pedra, acompanhá-la ladeira abaixo.

O que fascina é a sua maneira serena de contar uma história tão cheia de movimentos.

Diogo Lyra disse...

Na pedra que rola e passa, um passado cristalizado em milênios de sedimentos que, nos poucos segundos de movimento, se despedaçam em fragmentos de presente...

Fabrício Fortes disse...

o triste de ser um trem é ter de andar sempre em cima dos trilhos.. é preferível a pedra desgovernada.

Anônimo disse...

ê saudade

R. disse...

A pergunta, qual o interesse maior? As palavras ou o homem?

Diogo Lyra disse...

Volta!!!!!